Curta-metragem “Gorete – O Início” é gravado em São Marcos e resgata cenário histórico da Serra Gaúcha
Filme tem como locação principal uma residência centenária no distrito de Pedras Brancas e será lançado no Halloween com temática de terror trash

Casa de madeira centenária localizada no distrito de Pedras Brancas, em São Marcos, com varanda frontal e telhado de barro, cercada por vegetação típica da Serra Gaúcha. A residência serviu como principal cenário para as filmagens do curta-metragem “Gorete – O Início”. Foto: arquivo pessoal/família Camassola
A tranquilidade do interior de São Marcos deu lugar, no último fim de semana, ao suspense e à movimentação de uma equipe de cinema que veio captar um pedaço da história gaúcha para o curta-metragem “Gorete – O Início”. As gravações aconteceram em Pedras Brancas, distrito do município, tendo como cenário central uma casa centenária da família Camassola, rica em memórias e afeto — e, agora, parte viva da ficção.
Com previsão de estreia para o Halloween, o filme é uma produção independente dirigida por Nícolas Mabilia, de Flores da Cunha, em parceria com o ator e roteirista Guilherme Eyng, de Santa Catarina. Trata-se de um prequel de "Gorete" (2018), curta anterior do mesmo diretor, e vem para aprofundar a história da personagem-título — uma mulher sufocada pelos padrões e tradições do passado que encontra, na mata, uma força sombria que promete libertá-la, mas cobra um preço alto.
“A personagem comunica um grito de liberdade que não poderia ser ouvido naquela época. É uma sátira com fundo crítico, que traz luz a comportamentos que ainda merecem reflexão nos dias atuais”, explica Arthur Della Giustina, membro da equipe, em entrevista ao São Marcos Online.
Uma casa que guarda histórias e memórias
A escolha da residência em Pedras Brancas foi cuidadosa. Conforme relatado por Patrícia Camassola, ex-vereadora e ex-secretária de Cultura e Turismo de São Marcos, o local — uma casa de madeira que pertenceu aos seus avós — foi indicado pelo historiador local Robson Cioato, que também colaborou com informações culturais locais e chegou a ceder parte de sua moradia para apoio às gravações.
“A casa dos meus avós estava desocupada no momento e foi indicada como possível cenário. Quando o diretor e a equipe vieram conhecer, disseram que era exatamente o que procuravam. A família toda ficou feliz em poder contribuir com a cultura local. A casa segue sendo um espaço de boas memórias, onde nos reunimos anualmente. E por que não agora ser também o palco de uma produção audiovisual?”, relata Patrícia.

A equipe passou um fim de semana no local, gravando cenas que exigiram não apenas cuidados técnicos e estéticos, mas também uma alta performance dos atores e fidelidade com os elementos da década de 1920 — época em que se passa a história. Horta, chiqueiro, ambientes internos e externos foram incorporados de maneira orgânica à trama.
“Cada ideia que surgia era checada com base em uma pesquisa histórica. Embora o filme não tenha compromisso total com a veracidade de época por ser uma paródia, buscamos manter coerência com o contexto, inclusive no uso do sotaque colono e nos diálogos”, explica Arthur.
Tradição, simbologia e o sobrenatural
Embora não se baseie diretamente em lendas da Serra Gaúcha, o filme é permeado por uma estética regional e referências simbólicas ao folclore local. O elemento sobrenatural da trama é representado por uma força maligna que lembra a figura do Sanguanel, personagem mítico do imaginário gaúcho, associado ao caos e à travessura.
Gorete, a protagonista, é uma mulher jovem que vive sob o peso das tradições rígidas e abusivas de sua família. Ao desejar ardentemente sua liberdade, ela acaba selando um pacto com uma força oculta, o que coloca todos à sua volta em perigo.
Equipe regional e cinema feito com paixão
Com 90% da equipe técnica composta por talentos da região de Caxias do Sul — muitos deles graduandos e graduados da UCS e da FSG —, o projeto reforça o potencial criativo da Serra. O elenco também conta com nomes do RS e de Santa Catarina, unindo esforços de diferentes estados para contar uma história que, apesar de fictícia, carrega traços muito reais de repressão, desejo e libertação.
Entre os nomes envolvidos estão Leo Kaczorowski (foto), Arthur Della (produção), Sofia Deneluz (arte), e Ricardo Mabília (som). Toda a produção tem como base o princípio de trabalho coletivo e apaixonado. O projeto é financiado inteiramente de forma independente, especialmente pelo próprio Nícolas Mabilia.
“Não foi fácil. Cada cena exigiu muito ensaio, preparação, pesquisa e sincronia entre os setores. Mas acreditamos na história e, acima de tudo, uns nos outros. Esse é o tipo de cinema que precisa ser feito com amor”, ressalta a equipe.
Lançamento e circulação
Antes de sua estreia pública, prevista para o Halloween, “Gorete – O Início” passará por festivais e mostras nacionais e internacionais, com o objetivo de divulgar o cinema independente e, ao mesmo tempo, levar um pedaço da cultura da Serra Gaúcha para o mundo.
A produção pretende, em breve, lançar um perfil no Instagram com conteúdos de bastidores, trailers e atualizações sobre exibições e festivais. Também está nos planos a criação de uma vaquinha virtual, para que o público possa contribuir com o projeto e apoiar futuras etapas — desde a pós-produção até as inscrições em circuitos de exibição.
“Mesmo sendo uma sátira, o filme debate temas relevantes, com coragem e originalidade. São Marcos entrou para a história do projeto, e temos certeza de que o curta também deixará sua marca na história cultural do município”, finaliza Arthur.