Audiência pública debate cessão do Galpão Tio Carlo ao CTG em São Marcos
Amplo apoio da comunidade e participação expressiva de membros da entidade marcaram a noite no plenário da Câmara. Debate trouxe questionamentos sobre regras, tempo de concessão e gestão do espaço A Câmara de Vereadores de São Marcos foi palco de uma audiência pública bastante movimentada na última quarta-feira (28).

Amplo apoio da comunidade e participação expressiva de membros da entidade marcaram a noite no plenário da Câmara. Debate trouxe questionamentos sobre regras, tempo de concessão e gestão do espaço
A Câmara de Vereadores de São Marcos foi palco de uma audiência pública bastante movimentada na última quarta-feira (28). O encontro teve como objetivo discutir o Projeto de Lei nº 22/2025, de autoria do Executivo Municipal, que propõe a concessão de uso gratuito do Galpão Tio Carlo ao CTG Tio Carlo. A proposta busca formalizar uma prática de décadas, em que a entidade tradicionalista já utiliza o espaço para suas atividades culturais, sociais e de preservação da tradição gaúcha.
O plenário ficou lotado, principalmente por integrantes do CTG — entre eles, crianças, jovens, pais, avós e membros da patronagem — que fizeram questão de comparecer em massa para acompanhar e participar do debate. O clima foi de grande mobilização comunitária, marcado por manifestações emocionadas em defesa do tradicionalismo e do papel social que a entidade desempenha.
Objetivo do projeto: regularizar o uso e preservar o patrimônio
Durante a abertura, o presidente da Comissão de Orçamento, Finanças, Infraestrutura Urbana e Rural, vereador Eduardo César Rizzo, destacou que a audiência teve como propósito garantir transparência, ouvir a comunidade e sanar dúvidas dos parlamentares antes da emissão do parecer.
Na sequência, o prefeito Volmir Nazareno Rech esclareceu que o projeto não cria um novo direito, mas sim regulamenta o uso de um espaço que há anos é ocupado pela entidade. Segundo ele, o objetivo é garantir que o espaço seja bem cuidado, com a responsabilidade do dia a dia passando ao CTG, embora a manutenção estrutural continue a cargo da prefeitura.
— “O que nós queremos é formalizar uma realidade. Hoje, quem cuida, quem mantém vivo aquele espaço é o CTG Tio Carlo. É uma entidade que não explora comercialmente, que não lucra com isso, e que presta um grande serviço para a comunidade, especialmente na formação das crianças e jovens dentro da cultura e dos valores do nosso estado”, afirmou Volmir.
CTG quer cuidar, não se apropriar, afirma patrão da entidade
O patrão do CTG, Felipe dos Reis, fez um relato emocionado, reforçando que a entidade não deseja “se apropriar” do espaço, mas sim assumir a responsabilidade de zelar, cuidar e organizar o uso, preservando o patrimônio público.
— “Toda segunda-feira, quando chegamos para o ensaio, precisamos limpar o galpão. Muitas vezes, quem utilizou no fim de semana deixou sujo, com lixo, restos de comida, mesas quebradas. A gente quer apenas cuidar. E mais: o espaço continuará sendo cedido para outras entidades, piquetes, CTGs e grupos que necessitem, como sempre foi”, destacou.
O patrão também explicou que, mesmo sem nenhuma formalização, o próprio CTG já investiu do próprio bolso na compra de ventiladores e busca instalar sistema de segurança com câmeras e alarme, justamente para proteger o espaço e os bens utilizados nas atividades da entidade.
Falas emocionadas reforçam o papel social do CTG
Outros representantes da entidade usaram a tribuna e, em tom emocionado, reforçaram a importância do espaço para a construção de valores, disciplina e integração social dos jovens. Márcia Machado, integrante da entidade, lembrou que, em determinado período, o CTG ficou sem espaço para ensaiar, e as crianças ficaram desmotivadas.
— “Cuidar de crianças é investir no futuro. Quando elas não têm um lugar, ficam sem identidade. Aqui, elas aprendem respeito, disciplina e amor pela cultura”, disse.
Coordenador da invernada mirim, Ederson Perin reforçou: “Ali dentro todos são pais de todos. E é esse espírito comunitário que queremos manter vivo”.
Vereadores apoiam, mas fazem questionamentos técnicos
Embora o apoio ao trabalho do CTG tenha sido praticamente unânime, alguns vereadores levantaram questionamentos técnicos e jurídicos, especialmente sobre os seguintes pontos:
- O tempo da concessão, inicialmente previsto para 10 anos, foi considerado longo por parte dos parlamentares, que sugeriram redução para 3 ou 5 anos, com possibilidade de renovação.
- Falta de medidor de energia exclusivo, já que a conta de luz do galpão é compartilhada com todo o parque.
- Dúvidas sobre quem fará a gestão da agenda do espaço e como garantir que eventuais danos por terceiros sejam solucionados.
- Cobrança sobre por que não foi realizado um chamamento público, já que, em outros casos, como o pavilhão do Colina Sorriso, houve esse processo.
O vereador Rui Borba, por exemplo, defendeu que as regras sejam bem claras, especialmente sobre a responsabilidade pela limpeza, pela conservação do espaço e pela relação com outros usuários.
A vereadora Sabrina Reis também se manifestou, destacando que “ninguém aqui é contra o CTG”, mas defendeu que o termo de concessão seja muito bem elaborado para garantir segurança jurídica, tanto para a entidade quanto para o município.
Prefeito reforça abertura ao diálogo e possibilidade de ajustes
O prefeito Valmir reafirmou que está aberto a discutir ajustes, inclusive sobre a duração da concessão e sobre cláusulas que podem ser inseridas no contrato que será elaborado após a aprovação da lei.
— “Se não estiver funcionando, o contrato pode ser rescindido. Isso está claro. A lei é autorizativa, e o contrato é que vai detalhar todas as responsabilidades. Estamos totalmente abertos a ouvir sugestões dos vereadores e da comunidade para que tudo fique bem organizado” — pontuou.
Encaminhamento final
O projeto segue tramitando nas comissões da Câmara antes de ir à votação em plenário. A expectativa é que seja aprovado, com eventuais ajustes no texto e nas cláusulas que serão contempladas no contrato de cessão.
A audiência pública foi encerrada com agradecimentos da mesa diretora e muitos aplausos da comunidade tradicionalista, que se fez presente de forma maciça, demonstrando união, força e o comprometimento do CTG Tio Carlo com a cultura e a sociedade são-marquense.