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A Casa por Dentro: Reflexões sobre Saúde Mental

Na coluna especial para o São Marcos Online, a psicóloga Ana Paula Fongaro reflete sobre saúde mental, como compreender o comportamento humano, como pensamos, sentimos e nos relacionamos conosco e com os outros.

Atualizado em 05/11/2025 às 22:11, por Liliane Cioato.

Foto: arquivo pessoal

Desde muito cedo, tenho a curiosidade de saber como é dentro das casas das pessoas. Observo as casas pelas quais passo e penso: “Como será que é lá dentro? Como essas pessoas vivem, se organizam, se cuidam? ” Com o tempo, percebi que essa curiosidade não era sobre arquitetura, mas sobre pessoas — sobre como cada um organiza sua casa interior. Assim como um lar pode estar bem arrumado ou desordenado, todos nós temos nossos próprios arranjos internos e externos. Foi essa percepção que me levou à psicologia: compreender o comportamento humano, como pensamos, sentimos e nos relacionamos conosco e com os outros.

Viver é estar entre altos e baixos — faz parte do processo. É como aquela linha do monitor cardíaco dos filmes: cheia de oscilações, mostrando que há vida. A linha reta pode parecer tranquila, mas no monitor, ela representa o fim.

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Saúde mental é como nos sentimos em relação a nós mesmos. Ter saúde mental é reconhecer esse ritmo que pulsa, é saber atravessar as variações da vida — tristeza, ansiedade, medo — e seguir adiante, abrindo espaço também para a alegria, a leveza e a esperança.

Cuidar da saúde mental é permitir que as fases aconteçam e dar sentido a cada uma delas. É estar em paz internamente, como se a casa estivesse limpa, arejada e organizada por dentro. É o estado de bem-estar em que conseguimos lidar com as demandas do dia a dia, desenvolver nossas capacidades, manter relações saudáveis e participar da vida em comunidade.

Quando pensamos em sofrimento, há algo importante: quando alguém quebra a perna e precisa de gesso, todos percebem, perguntam, oferecem ajuda. Mas quando a mente adoece, ninguém vê. Não há gesso, não há muletas. Muitas vezes, nem sequer há perguntas. Cuidar da saúde mental é lembrar que o que não aparece por fora pode estar doendo mesmo assim — e que acolher o invisível é tão necessário quanto cuidar do que está à vista.
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Para sabermos lidar bem conosco e com as pessoas à nossa volta, precisamos desenvolver uma competência essencial: a inteligência emocional. Sem ela, nossos relacionamentos se fragilizam, e temos dificuldade em lidar com a complexidade da vida, das emoções e de nós mesmos.
Mas afinal, o que é inteligência emocional? Ela se sustenta em cinco pilares: autoconhecimento, autogestão, automotivação, empatia e habilidades sociais.

O autoconhecimento é como um farol — não leva o navio até o porto, mas orienta o caminho. É a capacidade de reconhecer e compreender as próprias emoções, identificar gatilhos e perceber como elas influenciam o comportamento. É como uma bússola que dá direção nas escolhas. Pergunte-se: “Em que estado emocional estou agora?” A auto-observação contínua traz clareza sobre o que realmente importa — e muitos arrependimentos poderiam ser evitados se cultivássemos essa consciência.

A autogestão é a habilidade de regular as emoções, manter a calma e não ser dominado por elas em momentos desafiadores. É cuidar da própria energia, dos limites e da rotina, evitando reações impulsivas.
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A automotivação é usar as emoções de forma construtiva para seguir em direção aos objetivos, mantendo o foco e a energia mesmo diante das dificuldades. Existem dois tipos de motivação: a extrínseca (que vem de fora) e a intrínseca (que vem de dentro). Descobrir o que te faz levantar todos os dias — além dos boletos — é um ótimo caminho para se automotivar. Quais são teus sonhos, projetos e metas? Descubra-os.

A empatia é a capacidade de compreender os sentimentos e perspectivas dos outros, percebendo quando alguém está sobrecarregado, triste ou inseguro diante das mudanças.

E as habilidades sociais são o que nos permite comunicar com clareza, resolver conflitos e construir relações saudáveis, baseadas na confiança e no respeito.

Desenvolver essas competências é aprender a gerir a si mesmo — e esse é o primeiro passo para se relacionar melhor com o mundo ao redor. Cuidar de si não é luxo, nem fraqueza. É consciência, estratégia e responsabilidade.
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Assim como uma casa precisa de manutenção constante para continuar sendo um lar, nossa mente e nosso corpo também precisam de atenção e cuidado. Afinal, essa é a nossa verdadeira casa — o lugar onde vivemos todos os dias.

E agora, com a chegada dos últimos meses do ano, muitas pessoas aproveitam para fazer uma boa limpeza em casa: abrir as janelas, tirar o que não serve mais, organizar os espaços e preparar o ambiente para um novo ciclo.

Mas e a nossa casa interior? Também precisamos tirar um tempo para olhar para dentro, revisar o que estamos guardando, limpar o que pesa e deixar entrar o novo. Fazer uma boa gestão do nosso tempo, das nossas emoções e dos nossos pensamentos. Cuidar do que se pensa, cuidar do que se sente, cuidar do corpo e da mente — é isso que torna o nosso lar interno um lugar melhor para viver.
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Então, qual será o primeiro passo que você dará hoje para cuidar da sua casa por dentro? Se precisar, busque ajuda profissional. Assim como precisamos alimentar o corpo de forma saudável, também precisamos nutrir a mente para viver com mais qualidade e bem-estar.